Por que não SIV?

Fonte: Silvio Ambrosini - Sivuca - Data: 08/01/2011
Por que muitos pilotos não querem participar de um SIV?
 
Esta questão vem no decorrer dos anos se tornando uma constante em minha lista de perguntas mais freqüentes.
 
Posso perceber que um dos principais motivos de muitos pilotos não desejarem participar do SIV se resume ao desejo absolutamente normal de não se expor.
 
O homem não quer se expor, não quer correr riscos, não quer deixar o conforto do seu mundo previsível para investir na possibilidade de constatar sua falta de habilidade.
 
O SIV expõe as dificuldades, é uma ocasião onde cada piloto é posto a prova, pois o curso exige mais do que o piloto está acostumado.
 
O curso exige, por exemplo, que o piloto seja preciso na decolagem e já que ela é diferente da decolagem normal de montanha, o piloto se sente assim, exposto à possibilidade de erro e isto o incomoda.
 
Alinhar-se com o barco durante a subida exige que o piloto mantenha uma trajetória extremamente precisa sob constante correção o tempo todo. Ele é obrigado a isto, pois caso contrário não consegue ser içado corretamente pelo barco. Normalmente, com relação à trajetória o piloto apenas tem de se preocupar em ir para a região do pouso ou ir para próximo desta ou daquela nuvem, ele não tem de se preocupar em manter o parapente seguindo exatamente a mesma linha o tempo todo como o vôo rebocado exige. Temos novamente então uma situação que exige um comportamento específico do piloto que pode considerar isto um "excesso".
 
O piloto deveria (afinal ele vem ao curso para isto) realizar figuras de vôo que não está acostumado e se vê obrigado a tomar decisões que exigem dele um alto nível de processamento simultâneo de informações. Especialmente se o piloto está acostumado a voar em apenas um lugar, ele dificilmente é submetido a este tipo de situação uma vez que o vôo já está automaticamente planejado. No curso então, ele tem de pensar e pode ser que não esteja acostumado com isso.
 
Quanto às manobras então nem se fala. Quase ninguém está acostumado a provocá-las o que torna esta operação algo inteiramente novo, especialmente quando se tem de executar manobras que aparentemente foram escolhidas por outra pessoa, isto é, lhe foram impostas por um programa, por mais que o próprio piloto tenha escolhido este programa voluntariamente.
 
Uma pessoa não deseja ter de se submeter a qualquer tipo de pressão, se é que podemos chamar assim.
 
Bem, meus caros amigos, ao meu ver, este tipo de pressão representa exatamente uma das mais saudáveis e construtivas experiências que podem acontecer na vida de um piloto, pois quando nos descobrimos capazes de administrar um mundo totalmente novo dentro do esporte que já estamos acostumados, nos vacinamos contra as eventuais possibilidades futuras que venham contra nossa vontade nos cobrar tal capacidade de resolução. É inegável que o SIV proporciona jogo de cintura para o piloto, torna-o mais esperto, acrescenta julgamento, capacidade de processamento simultâneo de informações, habilidade técnica.
 
O SIV pressiona o lado emocional, obriga o piloto a administrar eventuais frustrações de forma saudável. O SIV, ao meu ver é uma tremenda lição de vida. Não uma lição ministrada por um instrutor, este é apenas um mero veículo facilitador do processo, mas uma lição ministrada por todo o ambiente novo que cerca o participante do curso.
 
É exatamente como um pai que submete seu filho que está aprendendo a andar, à possibilidade de cair no chão. O stress que a situação representa é o custo que o ato de andar corretamente impõe a todas as crianças. Não há como ficar com pena de uma criança que cai aprendendo a andar. Se a poupássemos deste "sofrimento", ela jamais aprenderia. O ato de ir para a escola também é igualmente assustador, porém ele tem de acontecer, não há como evitar, não há como fugir disto.
 
A verdade é que não há crescimento por pura inércia coletiva. O crescimento que o homem busca é inteiramente individual e depende exclusivamente dele ter a disposição e a coragem de se expor a situações que exijam dele mais do que ele está acostumado a atender; é o puro e simples ato de "pôr o seu na reta".
 
Para um passarinho sair do ovo, ele tem de quebrar a casca sozinho, do contrário morreria dentro dela. Para ganharmos um bom salário, temos de nos esforçar a encontrar um bom emprego o que significa um tempo enorme de esforço individual.
 
Não vejo como um piloto poderia dispensar tamanha oportunidade de crescimento, tamanha oportunidade de ser posto a prova, de encontrar-se consigo mesmo, de constatar suas fraquezas e ser obrigado a tomar decisões que não está acostumado. Não vejo como um piloto pode desperdiçar a oportunidade de se tornar um piloto melhor, uma pessoa melhor.
 
A maior prova é que antes de ser um piloto uma pessoa não sabia voar; ela teve de se submeter a um curso, um processo de aprendizado que certamente teve um considerável nível de dificuldade. Se não não houve dificuldade alguma para aprender a voar, então para este piloto o SIV também será igualmente fácil.
 
Silvio Carlos Ambrosini – Sivuca – www.ventomania.com.br
ABP - Associação Brasileira de Parapente - Copyright 2021 © Todos os direitos reservados.
CNPJ: 05.158.968/0001-64