Decolando (e pousando) na ventaca (revisto out/2010)

Fonte: Silvio Ambrosini - Sivuca - Data: 08/01/2011
Decolando (e pousando) na ventaca (revisto out/2010)
 
Logo de cara, alguns leitores irão torcer o nariz diante do título deste artigo, já que o piloto de parapente sabe que se o vento estiver muito forte, provavelmente será melhor ele não decolar. O piloto austríaco Urs Haari, quando esteve no Brasil lá pelos idos de 1994, já pregava: "se eu preciso de ajuda para decolar, não decolo".
 
Entretanto, as pessoas decolam. As decolagens com vento além da conta continuam acontecendo e as pessoas também continuam se machucando, ferindo outras pessoas ou danificando seu equipamento.
 
Quando o vento está muito forte, o piloto muitas vezes é arrancado do chão ou então é arrastado pela rampa. Isto acontece por um motivo simples, o vento mais forte traz maior velocidade num espaço de tempo mais curto e com ela, a sustentação aumenta também dificultando o ato de manter os pés no chão. Diante de nossa teimosia humana, podemos evitar alguns ferimentos utilizando algumas técnicas simples de serem treinadas e aprendidas:
 
Posicionamento da vela
 
Coloque o parapente no chão normalmente, vire de frente para o bicho e segure ambos os tirantes A com uma mão apenas enquanto os freios estão normalmente nas suas mãos. Dê um passo para a esquerda (se os tirantes estiverem na mão direita) de forma que o lado esquerdo do parapente manifeste tendência de sair do chão antes do direito.
 
Você pode posicionar o velame parcialmente fechado, principalmente a ponta do lado direito (já que o esquerdo deverá subir primeiro), isto ajudará a inflada ser mais lenta.
 
A inflada
 
Posicione o corpo com as pernas flexionadas e o quadril projetado para trás mantendo o braço direito completamente esticado.
 
O momento da inflada é muito crítico justamente porque seu peso ainda não foi transferido para a vela.
 
Então, puxe suavemente os tirantes enquanto corre rampa acima em direção ao parapente. A jogada é você "reduzir" a velocidade do vento correndo a favor dele. Dessa forma, você estará debaixo do velame oferecendo todo seu peso a ele reduzindo o risco de arrastões.
 
 
 
Observe que enquanto você corre, o lado esquerdo começa a subir antes do direito. Atue no freio esquerdo durante a subida de forma a reduzir sua velocidade. O parapente chegará sobre sua cabeça virado quase 45° para o lado direito. Corrija a trajetória e faça a decolagem.Não dobre o cotovelo durante a subida do velame, isto irá acelerá-lo demais e complicar as coisas.
 
Fique atento, isto tudo acontece as vezes em uma fração de segundo.
 
Quando o parapente sobe assimetricamente, ele exibe uma tendência muito menor de arrancar o piloto do chão e a decolagem fica obviamente muito mais fácil, mas o mais importante é correr rampa acima em direção ao parapente. É você quem tem que correr para baixo dele e não esperar que numa ventaca, a vela se monte bonitinha sobre sua cabeça.
 
Atenção, procure transferir seu peso para a vela o mais rapidamente possível deixando-as flexionadas e tracionando o equipamento para baixo. Se seu pensamento está voltado para a necessidade de fazer peso no equipamento, suas ações irão refleti-lo tornando as coisas mais eficientes.
 
Não peça lastro e não dê lastro. Decolar é sua responsabilidade. Não é justo delegá-la a outra pessoa que poderá se machucar ou machucar você. Tenha em mente que se um piloto precisa de ajuda para decolar, isto significa que ele é incapaz de controlar seu parapente em decolagem com vento forte. Esta incapacidade técnica é um problema grave, porém muito fácil de ser resolvido. Basta fazer um treinamento específico que o piloto rapidamente adquire a técnica "oculta". Neste caso, não será agora que você deverá decolar.
 
Procure adquirir a mobilidade de deslocar-se para baixo do centro do velame. Alguns pilotos insistem em trazer o parapente para suas cabeças enquanto basta um passo para o lado para resolver o problema quase instantaneamente.
 
Evite cancelar a inflada na metade. Você terá dificuldade em manter o equilíbrio com certeza. Apenas infle quando você estiver seguro, se bem que "estar seguro" é um conceito relativo.
 
Não fique brigando com o parapente que quer decolar sozinho. Desloque-se em direção a ele ou corra em volta dele. As linhas se afrouxarão e tudo ficará mais fácil.
 
Segurar o parapente que não quer ficar quieto utilizando os tirantes C é uma boa idéia. Porém na hora de decolar, largue os C e proceda normalmente utilizando os freios.
 
Evite ao máximo utilizar o acelerador. Se tiver de fazê-lo, esteja ciente do risco de colapso e da dificuldade extra em corrigir. Poderá ser o último de sua vida. Lembre-se que a velocidade máxima de decolagem jamais deverá levar em conta a possibilidade de uso do acelerador.
 
Cada piloto tem seus limites, porém na maioria das vezes estes limites são determinados através da dura experiência, e são sempre concluídos com a frase "nunca mais tento decolar com esse vento"...
 
Se a carga estiver menor que o máximo, certamente a velocidade cruzeiro será inferior àquela determinada pelo fabricante e a dificuldade em inflar e controlar o parapente será bem maior. Pensando bem, se você está abaixo da faixa média de seu velame, desista.
 
O gradiente irá proporcionar um aumento expressivo na velocidade do vento logo acima da decolagem, por isto, jamais decole no limite. Vento mais forte que 25km/h já pode ser considerado vento forte. Acima de 30, ao meu ver, é proibitivo para a maioria dos pilotos. Acima de 35km/h, a decolagem é pura tolice.
 
Pousando na Ventaca
 
Bem, já que tomamos a estúpida decisão de fazer este voo, agora o negócio é pousar... Mas antes precisamos chegar ao pouso ou algum lugar que se pareça com um. Não adianta caranguejar quando você não consegue ir para frente. O aparente aumento de velocidade causado pelo deslocamento lateral não irá te levar para frente, a não ser que você tenha visto um pouso ao lado, neste caso inclusive poderá ser uma boa ideia.
 
Leve em conta que voar para a lateral de uma montanha com vento forte poderá significar entrar em uma zona de venturi, com alto nível de turbulência e ventos ainda mais fortes.
 
Se você tem altura, talvez seja a hora de finalmente acionar o acelerador. O mais prudente neste caso seria você ficar atento ao seu angulo de ataque, ou seja, se a vela (pensar em) mergulhar, alivie imediatamente o pé da barra, fazendo o inverso quando a vela for para trás, aproveitando inclusive isto. Com orelhas a probabilidade de colapso reduz um pouco, porém a velocidade também diminuirá. Você terá de compensar utilizado o acelerador próximo do máximo. Lembre-se que se estiver turbulento o seu parapente mostrará vontade de mudar de direção, entrando em curva a todo momento o que poderá significar um caranguejar nocivo ao seu deslocamento horizontal.
 
Não permaneça acelerado ao se aproximar do solo. Se você sofrer um colapso acelerado a perda de altura será contundente e você nem sua família irão gostar das possíveis consequências.
 
Leve em conta que você precisará garantir que o velame volte a ser um pedaço de pano o mais rapidamente possível. Assim, recomendo que ao se aproximar do chão, toque-o flexionando as pernas de modo que você fique agachado tentando aproximar o velame o máximo do solo que for possível. Fique com os tirantes C nas mãos enquanto isso e quando estiver preparado, levante-se num salto ao mesmo tempo em que puxa os tirantes para baixo. A perda de sustentação causada pelo seu repentino deslocamento para cima e a tração nos tirantes ajudará você a colapsar a vela quase facilmente. É difícil? E quem disse que era fácil?
 
Assim que a vela for se esparramando pelo chão, corra em volta dela, descrevendo um raio ao redor do centro do parapente até ter alcançado o outro lado. O velame ficará sem ter como arrastar você.
 
Técnica do pêndulo
 
Outra forma que também vale a pena é utilizar um pouco de pêndulo fazendo com que a vela pique justamente antes de você tocar o solo. Nesse exato instante você libera os freios soltando o parapente de forma que ele vá colapsar na sua frente. Ao mesmo tempo em que isso acontece, corra ao longo do raio da mesma maneira que a explicação anterior de modo a você conseguir que as linhas terminem completamente soltas no chão.
 
Cuidado, não tente pousar com vento forte utilizando os freios. Você será arrastado com certeza.
 
Espero sinceramente que estas informações jamais venham a ser utilizadas na prática por qualquer um de nós.
 
Sivuca
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